Atividades ocorreram na NCEPU, instituição importante para pesquisas do setor

Entre os dias 1 e 18 de julho, estudantes e profissionais de diferentes nações participaram de curso de formação organizado pela North China Electric Power University — NCEPU —, universidade líder na área de ciência e transição energética na China. O programa busca ampliar o conhecimento dos participantes sobre o desenvolvimento e a aplicação de tecnologias de energia limpa, discutir tendências e desafios futuros do setor e aprofundar a compreensão sobre os avanços da China nesse campo.
Pesquisadores de diferentes níveis acadêmicos participaram da programação. A comitiva brasileira foi dividida entre duas sessões: na primeira, de 1 a 11 de julho, estiveram presentes os pesquisadores Byron Acurio, David Baptista, Luis Alvarado e Washington Orbe e a gestora de parcerias do CPTEn, Raquel Magri. Já na segunda sessão, entre 8 e 18 de julho, participaram os pesquisadores João Ito Cypriano, Johanna Iñiguez, Nathalia Hidalgo e Pablo Hernandez e a bolsista de Jornalismo Científico do CPTEn, Julia Devito.

Sem energia, não há progresso econômico ou social
Ao longo dos diferentes seminários, foram discutidos temas centrais para a transição energética, partindo tanto de aspectos técnicos quanto de questões políticas e ambientais. Houve uma contextualização ampla sobre as mudanças climáticas e a geopolítica da energia, incluindo a produção de petróleo no Oriente Médio, o uso de carvão e gás natural — este último apresentado como fonte de transição —, além de referências a dados específicos da política energética da China e sua rede de distribuição nacional altamente interconectada. Também foram mencionados problemas ambientais específicos do país, como a ocorrência de neblina fotoquímica em Xinhua, um tipo de poluição do ar causado pela reação da luz solar com poluentes industriais e veiculares, formando uma névoa densa e tóxica.
As tecnologias renováveis tiveram destaque, especialmente a solar e a eólica. No caso da energia solar, foi detalhado o funcionamento de sistemas fotovoltaicos, ressaltando que o superaquecimento reduz sua eficiência. Discutiu-se ainda a importância de diversificar as fontes de geração para garantir a resiliência energética, com referência às metas anunciadas pelo presidente Xi Jinping: manter o uso de combustíveis fósseis até 2030 para sustentar o crescimento econômico e alcançar a neutralidade de carbono até 2060.
Também foram abordadas inovações como o uso de hidrogênio e o aproveitamento de resíduos sólidos urbanos em termelétricas, uma estratégia considerada especialmente relevante para grandes centros urbanos e alinhada ao plano de transição energética.
Laboratórios e visitas técnicas
O cronograma incluiu visitas a instalações da NCEPU, como o Laboratório de Engenharia para Equipamentos de Geração de Energia de Biomassa (National Engineering Laboratory for Biomass Power Generation Equipment), o Centro de Pesquisa de Tecnologia de Engenharia de Robôs Inteligentes de Energia Elétrica (Electric Power Intelligent Robot Enegineering Technology Research Center), o Túnel de Vento no Laboratório de Novos Sistemas de Energia (Wind Tunnel Laboratory at the State Key Laboratory of New Energy Power Systems), e o Laboratório de Alta tensão e Compatibilidade Eletromagnética (Beijing Key Laboratory of High Voltage Technology and Electromagnetic Compatibility).

A NCEPU se destaca como uma importante instituição de pesquisa intensiva com foco disciplinar em energia e engenharia, com 14 escolas, 67 programas de graduação, 50 de pós-graduação, 28 de doutorado e 7 de pós-doutorado. O objetivo do curso de verão é oferecer uma perspectiva do que a China planeja para o futuro em relação à sustentabilidade. No laboratório de biomassa, por exemplo, foi construída uma planta piloto para conversão de “lixo” em energia, uma abordagem conhecida como waste-to-energy. O material orgânico (chamado de biomassa) é triturado, seco e tratado para melhorar a eficiência do processo de conversão em energia, que ali ocorre sobretudo a partir da incineração: a queima controlada da biomassa para produção de calor e eletricidade. Além disso, foram adotadas técnicas de mitigação das emissões de CO₂. Esse tipo de tecnologia de conversão também está em desenvolvimento no Brasil, no entanto, na maioria dos casos, as pesquisas ainda estão restritas a simulações computacionais, devido ao alto custo de implementação e carência de infraestrutura.
Ao sul de Pequim, a China demonstra o seu comprometimento com a transição energética na Zona Internacional de Demonstração de Energia a Hidrogênio de Daxing. O parque abriga um ecossistema industrial que inclui estações de abastecimento, incubadoras internacionais, plataformas de testes e centros de certificação. Sua principal estação de reabastecimento é apontada como a maior do mundo, com capacidade de gerar 4,8 toneladas de hidrogênio diárias, abastecendo cerca de 600 veículos por dia.

A comitiva da Unicamp ainda teve a oportunidade de visitar empresas e instituições de destaque na China, entre elas a BOE, líder global em tecnologias de displays e soluções de Internet das Coisas, e a Global Energy Interconnection Development and Cooperation Organization (GEIDCO), organização internacional dedicada a promover o desenvolvimento de redes elétricas interconectadas e a integração de energias limpas em larga escala. Essas visitas possibilitaram conhecer in loco inovações tecnológicas e estratégias de cooperação internacional que refletem o avanço chinês em setores estratégicos para a transição energética e a transformação digital.
Além do conteúdo técnico, o Green Energy Youth Leadership Camp complementa a sua programação com o ensino sobre a cultura local, oferecendo aulas sobre a história e arte da China, e passeios aos principais pontos de interesse da cidade. Os participantes conheceram o Palácio de Verão, a Grande Muralha da China, o Parque Olímpico, a Praça Tiananmen, a 798 Art Zone, o Templo do Céu e os centros comerciais centenários de Qianmen e Hongqiao.
Reportagem: Julia Devito (bolsista de Jornalismo Científico CPTEn/Fapesp)
Fotos: acervo pesquisadores