Pesquisadores do CPTEn participam de encontro em Montevidéu, no Uruguai
Durante o encontro em Montevidéu, realizado entre 14 e 16 de julho no âmbito do projeto financiado pela Fapesp Processo:24/01486-9 “Hidrogênio verde e transição energética. Desafio regulatórios, tecnológicos, produtivos e de descarbonização para o Mercosul” pesquisadores do CPTEn participaram do primeiro encontro para mostrar os resultados da primeira fase do trabalho sobre a análise comparativa das políticas emergentes sobre hidrogênio no Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, com foco nos temas de governança, sustentabilidade e regulamentações.

Brasil
O Brasil deu um passo institucional importante com a promulgação da Lei nº 14.948/2024, que estabelece as bases legais para o hidrogênio de baixo carbono e cria o Regime Especial de Incentivos para a Produção de Hidrogênio de Baixo Carbono (Rehidro). A proposta inclui o desenvolvimento de um sistema nacional de certificação e o estímulo a parcerias público-privadas, sinalizando um papel ativo do Estado na estruturação do mercado nacional.
Argentina
A Estratégia Nacional de Hidrogênio Verde 2023–2050 da Argentina é ambiciosa ao destacar o potencial eólico da Patagônia e a vocação exportadora do país. No entanto, sua governança sobre o hidrogênio ainda é embrionária. Faltam definições sobre como os benefícios econômicos e ambientais serão distribuídos, especialmente em regiões com frágil infraestrutura ou baixos encadeamentos produtivos. Além disso, a instabilidade política e econômica do país representa um obstáculo relevante para a formação de coalizões estáveis voltadas à industrialização verde.
Uruguai
O Uruguai consolidou sua estratégia nacional para o hidrogênio verde em 2022 com o “Hoja de Ruta del Hidrógeno Verde”, alinhando-se ao seu modelo bem-sucedido de transição energética – marcado por planejamento de longo prazo, forte institucionalidade e liderança em renováveis. Sua experiência em coordenação público-privada e políticas energéticas inclusivas – como os “Clubes Solares” para democratizar o acesso – pode ser decisiva para integrar o hidrogênio a uma transição justa e sustentável
Paraguai
O Paraguai está nos estágios preliminares de desenvolvimento de um mercado de hidrogênio verde. Embora possua um dos maiores potenciais hidrelétricos do mundo (com excedentes energéticos de Itaipu e Yacyretá), ainda não consolidou uma estratégia nacional ou marco regulatório específico para o hidrogênio. Em 2024, o governo iniciou discussões sobre o tema no âmbito de sua transição energética, com apoio de organismos como o BID e a H2LAC. O país pode acelerar seu progresso por meio de cooperação regional para compartilhamento de tecnologias, infraestrutura de eletrólise e integração de mercados, aproveitando sua energia renovável subsidiária.

“A descarbonização dos setores industriais por meio do hidrogênio de baixo carbono representa uma oportunidade estratégica para reposicionar economias sul-americanas nas cadeias globais de valor. No entanto, essa transição envolve desafios significativos ao longo de toda a cadeia produtiva: desde a infraestrutura e logística, até a inovação tecnológica, regulação de mercados, impactos ambientais — como o uso intensivo de água — e a construção de mercados consumidores. Países da América do Sul, como Brasil, Argentina e Uruguai, vêm se posicionando como futuros produtores e exportadores de hidrogênio de baixa emissão, alavancando seu vasto potencial em energias renováveis e o fortalecimento dos marcos regulatórios climáticos e energéticos. Ainda assim, a transição revela dinâmicas complexas da economia política regional, incluindo a persistência de interesses fósseis, a fragmentação regulatória e a ausência de mecanismos de coordenação regional e de consolidação de mercados. Assim, no segundo momento do projeto, o foco está na análise das cadeias de valor e setores estratégicos, bem como das condições de mercado, infraestrutura e logística nos países do Mercosul participantes do projeto”
Lira Luz Benites Lazaro – pesquisadora do CPTEn