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Mobilidade elétrica em pauta: Unicamp recebe workshop sobre o futuro do transporte sustentável no Brasil

Evento teve apoio da GIZ Alemanha, Campus Sustentável e CPTEn

A transição para uma mobilidade urbana mais sustentável ganhou novos contornos com o Terceiro Workshop do Grupo de Trabalho da Componente Pesquisa do Projeto AcoplaRE, realizado nos dias 11 e 12 de março na Unicamp. Com apoio da Agência Alemã de Cooperação Internacional – GIZ e do Escritório Campus Sustentável, o evento reuniu representantes do governo, academia e setor privado para debater modelos de negócios e desafios para a eletromobilidade no Brasil.

Workshop ocorreu na Casa do Lago, na Unicamp

Rumo a um futuro mais verde

O principal objetivo do workshop foi projetar modelos de negócios para viabilizar o avanço da eletrificação do transporte público no Brasil, a fim de reduzir a dependência de combustíveis fósseis, promovendo a justiça social e ambiental nas cidades. Os debates aconteceram na Casa do Lago da Unicamp e incluíram painéis com especialistas, dinâmicas interativas, e uma visita técnica à fábrica da BYD Brasil.

Luiz Carlos Silva, coordenador do Campus Sustentável e diretor do CPTEn, inaugurou as apresentações, posicionando a Unicamp na vanguarda em relação a outras universidades brasileiras. Há mais de quatro anos, o ônibus elétrico que opera na universidade possibilita a experimentação e a produção de conhecimento em recarga inteligente, dimensionamento de baterias, coleta de dados IoT e otimização de sistemas de mobilidade urbana, transformando o campus em um laboratório vivo de eletromobilidade.

Apoio institucional é fundamental

Representantes dos ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e de Minas e Energia (MME) reforçaram o papel do governo na articulação entre pesquisa, indústria e políticas públicas. Gustavo Ramos Lima, da SETEC/MCTI, defende a atuação de órgãos públicos como facilitadores entre a Academia e o setor empresarial, para garantir que a inovação chegue à sociedade. Já Marco Juliatto, do DTE/MME, destacou a criação do Fórum Nacional de Transição Energética, composto por reuniões, eventos e consultas públicas ao menos 3x ao ano, com o objetivo de produzir uma carta anual de recomendações ao CNPE e ao Plante (Plano Nacional de Transição Energética).

Objetivo do workshop foi projetar modelos de negócios para viabilizar o avanço da eletrificação do transporte público no Brasil

Modelos de negócios: o Brasil está preparado?

No primeiro bloco de apresentações, Flávia Consoni e Edgar Barassa abordaram as dificuldades enfrentadas pelos municípios, desde o alto custo inicial até a ausência de políticas coordenadas. “Não basta ter a tecnologia, é preciso romper com o padrão de dependência do diesel e construir um ecossistema com infraestrutura de recarga, mão de obra requalificada, adequação de aspectos regulatórios e normativos, e concordância entre operadores, fornecedores e gestores públicos”, afirmou Consoni.

Barassa alertou para a lacuna entre a legislação ambiental e a prática: a meta de 2,6 mil ônibus elétricos em São Paulo ainda está distante. Um dos grandes nós que explicam essa diferença está atrelado ao sistema de baterias, que implica em um custo de 2 a 3 vezes maior que um ônibus a diesel. Sem articulação financeira robusta, gestores públicos acabam optando pelo ônibus a diesel, desconsiderando o menor custo de manutenção, a autonomia variada, os benefícios socioambientais e os efeitos multiplicadores de emprego, renda e indústria resultantes da eletrificação.

Já Flávio Chevis, Sócio-Diretor da ADDAX e Vice-Presidente do Comitê de Economia e Financiamento de Transportes da UITP, trouxe experiências internacionais, como Groningen (Holanda) e Shenzhen (China), onde contratos públicos e subsídios aceleraram a eletrificação.

Inovação e tecnologia: a força dos dados

No segundo painel, Madson Cortes, pesquisador associado ao CPTEn, detalhou a experiência do campus como laboratório vivo, demonstrando que é possível melhorar a viabilidade financeira da eletromobilidade a partir da informação. O pesquisador Flávio Mariotto propôs políticas de recarga inteligente que aumentam a vida útil das baterias em até dois anos. Por sua vez, Bruno Dangelo, supervisor de vendas de caminhões da BYD, salientou a implementação bem-sucedida de caminhões elétricos de pequeno e médio porte, sobretudo no interior de São Paulo, onde cerca de 40 veículos circulam no serviço de coleta de resíduos urbanos, satisfazendo os operadores sobretudo pela economia de combustível.

A experiência prática de Campinas e Rio

O último painel trouxe experiências concretas de municípios brasileiros. Fernanda Steinberg, da GIZ, explicou o projeto de construção de uma Eco Garagem na zona oeste do Rio de Janeiro, que possibilitou a inserção de 50 ônibus elétricos. Durante pouco mais de 6 meses, foi realizado um estudo de viabilidade técnica em um cenário com 22 linhas, para traçar o modelo de negócio mais eficaz.

Vinícius Issa Riverete, diretor-presidente da Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec), relatou os obstáculos enfrentados por Campinas para implementar frotas elétricas. Com a queda brusca de passageiros, sobretudo após a pandemia, e a falta de investimentos federais, o transporte público no município paulista deve se reinventar. Uma nova licitação prevê a inserção de 60 a 80 veículos elétricos, mas esbarra na necessidade de infraestrutura adequada.

Um passo importante para um Brasil mais limpo

O workshop encerrou-se com a convicção de que a eletromobilidade é viável, mas exige planejamento, financiamento e colaboração entre esferas pública, privada e acadêmica. Nesse sentido, projetos como o AcoplaRE são fundamentais para reunir expertise e arquitetar caminhos sustentáveis.

Conclusão dos pesquisadores é de que a eletromobilidade é viável, mas exige planejamento, financiamento e colaboração entre esferas pública, privada e acadêmica.

Texto e fotos: Julia Devito (bolsista de Jornalismo Científico CPTEn/Fapesp)