Secretário municipal do verde aponta medidas de sustentabilidade em Campinas e reconhece liderança da Universidade
Participante do Fórum Permanente “A Transição Energética e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, evento organizado pelo Centro Paulista de Estudos da Transição Energética (CPTEn) e promovido pela Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (ProEC) da Unicamp em 13 de setembro, Rogério Menezes, secretário municipal do Verde, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável destacou os esforços realizados pelo município para promover a redução das emissões de carbono e buscar um futuro mais sustentável.
Nessa direção, ele comenta a importância de integrar os municípios da Região Metropolitana de Campinas (RMC) nos mesmos objetivos e contar com a parceria de instituições como a Unicamp e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), por meio do CPTEn, na realização de pesquisas que orientam a elaboração de políticas públicas para o setor.
CPTEn: Como as discussões a respeito da transição energética estão ocorrendo no âmbito municipal? O que tem sido realizado e como está a articulação com o estado?
Rogério Menezes: O município de campinas, desde 2015, liderou o processo de elaboração do inventário metropolitano de emissões de gases de efeito estufa, pago pelo fundo ambiental municipal, fizemos o inventário de gases poluentes e de efeito estufa dos 20 municípios da região metropolitana. Apesar de ser a maior cidade, Campinas não é a maior emissora. A maior emissora da região é Paulínia, justamente pelo polo petroquímico. Mas Campinas está em segundo lugar. O foco das nossas emissões de gases estufa é o transporte, particular e público. Somadas as emissões dos carros particulares e dos ônibus do transporte público, chegamos a 70% das emissões. Esse é um panorama bem diferente do cenário nacional, em que a maior parte das emissões vem da mudança no uso do solo, principalmente a retirada de florestas, como a Amazônia. Assim, Campinas liderou o processo e hoje todas as cidades estão unidas em um projeto importante de reflorestamento chamado “Reconecta RMC”. A primeira etapa teve apoio do Governo do Estado e foi assinada por 20 municípios para reflorestar cerca de 11 mil hectares de matas nativas, em corredores ecológicos, para conectar os fragmentos existentes que ficaram sem conexão por conta da derrubada de matas ciliares na região.
Campinas está desenvolvendo seu plano de ação climática. Nos levantamentos iniciais feitos pela secretaria, os recursos para isso ultrapassam 1,2 bilhão em ações já em andamento, como o plano cicloviário, que já atingiu 100 km de ciclovias e ciclofaixas, usinas verdes, que processam 100 toneladas de material orgânico e produzindo composto que é utilizado na cidade, e a transição do transporte urbano terá uma etapa importante com a nova concessão, cujos envelopes devem ser abertos em 20 de setembro. Essa concessão vai dar início à substituição de 25% da frota a diesel por ônibus elétricos. Pode parecer ainda incipiente, mas existem modelagens em relação ao impacto disso nas tarifas do transporte. Hoje temos dificuldades sociais ligadas ainda à pandemia, houve uma diminuição expressiva do uso de transporte público por falta de recursos, temos pessoas que optam por caminhar ou andar de bicicleta por terem dificuldades econômicas em bancar seu transporte. Muitas pessoas também estão na informalidade, sem vale transporte. Existe, então, todo um cenário social de fundo para a transição energética. Ela é importante, mas é cara, e isso não pode ser repassado para a tarifa, que já é comparável com cidades que não têm margem para elevação de valores.
Acreditamos que com o plano cicloviário e com a substituição de um quarto da frota, chegaremos a uma redução de 30% das emissões até 2040.
CPTEn: Nesse sentido, é importante também articular a região metropolitana nessas ações, não ficar apenas na ação de uma cidade?
Rogério: Nós fizemos a articulação no diagnóstico, em que cada município recebeu seu diagnóstico. No entanto, as ações para reduzir as emissões em âmbito local são de responsabilidade de cada município. Campinas não pode, por exemplo, tomar atitudes por Paulínia, por exemplo. Cada cidade deve implementar suas ações. No fim de 2018, Campinas promulgou uma lei com uma política de metas de redução de emissões. No entanto, para além dessas metas, acabamos de assinar um compromisso para zerarmos as emissões líquidas de carbono até 2050. Estamos fazendo nossa lição de casa, liderando as questões na região.
CPTEn: Qual a importância deste processo ter a participação de instituições como a Unicamp e a Fapesp, por meio do CPTEn?
Rogério: É muito importante, a Fapesp financiando a universidade e a universidade desenvolvendo projetos em parceria com o poder público municipal os abre janelas de oportunidades ímpar. Tenho certeza que nos dará ótimos frutos. A Unicamp já está fazendo sua lição de casa, antes mesmo de nossa cidade.
Entrevista: Felipe Mateus – jornalista da SEC Unicamp e gestor de Comunicação do CPTEn
Fotografia: Inácio de Paula – jornalista bolsista do CPTEn