Tecnologias permitem geração, armazenamento e distribuição de eletricidade de forma autônoma
Reportagem publicada no Jornal da Unicamp
Texto: Felipe Mateus
Fotos: Lúcio Camargo
Edição de imagem: Alex Calixto
Foi inaugurada nesta quinta-feira (21) a CampusGrid, microrrede autônoma de energia que integra tecnologias de geração, armazenamento e distribuição de eletricidade. Com a instalação da CampusGrid, uma área de aproximadamente 140 mil metros quadrados do campus de Barão Geraldo da Unicamp – compreendendo as Bibliotecas Central Cesar Lattes (BCCL) e de Obras Raras Fausto Castilho (Bora), o Ginásio Multidisciplinar (GMU) e a Faculdade de Educação Física (FEF) – contará com a operação de distribuição de energia de forma independente da rede principal, podendo funcionar mesmo durante períodos de interrupção de fornecimento, como em casos de blecautes. Os equipamentos da CampusGrid foram instalados no bolsão de estacionamento da BCCL, ao lado do posto de abastecimento do ônibus circular elétrico da Unicamp, e o evento de inauguração foi realizado no auditório do Instituto de Geociências (IG).
O desenvolvimento da microrrede é fruto de uma parceria entre a Unicamp, a Universidade Federal do Maranhão (UFMA), a CPFL Energia, a Aneel, o Instituto Avançado de Tecnologia e Inovação (IATI), as empresas do setor Eletra Energy e Hexing, o Instituto de Pesquisa em Engenharia Elétrica da China (Cepri) e a Universidade de Engenharia Elétrica do Norte da China.
Participaram do lançamento o reitor da Unicamp, Antonio Meirelles; o professor Luiz Carlos Pereira da Silva, coordenador do Projeto Microgrid e do Escritório Campus Sustentável; Gustavo Estrella, presidente da CPFL; Sylvio de Almeida e Caio Marinelli, representando as secretarias estaduais de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística e de Desenvolvimento Econômico, respectivamente; Rogério Menezes, secretário municipal do Clima, Meio Ambiente e Sustentabilidade de Campinas; Daobiao Chen, presidente do conselho de administração da CPFL; Guo Qiang, vice-reitor do Cepri; Tianshu Bi, vice-presidente da Universidade de Engenharia Elétrica do Norte da China; e Chunshan Cao, diretor de vendas da Hexing.
“Para nós, da CPFL, é um privilégio termos a Unicamp como instituição parceira”, destacou Estrella a respeito dos investimentos feitos pela empresa em projetos do tipo. A iniciativa também foi saudada pelos representantes do governo do estado. “Todas essas iniciativas vêm ao encontro das políticas implementadas pela Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado”, afirmou Sylvio de Almeida.
Segundo o reitor, a cooperação entre a Unicamp e a CPFL é uma das que mais se desenvolveram ao longo dos anos, tendo sido importante para que a Universidade desse início ao seu próprio processo de transição energética. Meirelles mencionou a importância de a inauguração ocorrer logo após a reunião do G20 no país e a assinatura de diversos acordos entre o Brasil e a China, lembrando, também, que, em 2024, as relações diplomáticas entre os dois países completam 50 anos. “Este é um grande momento para renovarmos essa colaboração exitosa por mais 50 anos”, apontou.
O reitor ressaltou, ademais, que o lançamento da CampusGrid reforça a importância da Unicamp na produção de ciência e tecnologia do país, respondendo por 8% de toda a produção nacional. “Somos uma referência em apostar nas atividades inovadoras e em utilizar nossa estrutura interna para desenvolvermos tecnologias”, comentou.
Os representantes das instituições chinesas assinalaram que as pesquisas desenvolvidas no Brasil servem de impulso para os esforços realizados por outras instituições e pelas empresas do setor de tecnologias para a transição energética. “Temos confiança de que este projeto será um guia importante para o desenvolvimento do setor”, exaltou Chunshan Cao.
Autonomia de operação
O desenvolvimento e a instalação da CampusGrid integram o Merge (Microgrids for Efficient, Reliable and Greener Energy), projeto de pesquisa e desenvolvimento da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), com financiamento da CPFL Energia, cujo objetivo é desenvolver, testar e implementar microrredes de energia em diferentes contextos, dimensões e estágios de maturidade e flexibilidade. Além da CampusGrid, o projeto conta com outras duas microrredes, uma experimental, em escala laboratorial, e outra instalada em um condomínio de Campinas. No total, R$ 45,3 milhões são investidos no projeto, entre o financiamento em pesquisas e a implementação de tecnologias. “São oito anos de projetos e muitos desafios enfrentados desde a instalação de nossa primeira usina fotovoltaica no campus. Hoje, estes desafios atingem um novo patamar”, lembrou Silva.
O que caracteriza uma microrrede de energia é a capacidade de operação de forma autônoma da rede elétrica principal. Atualmente, mesmo que produzam energia suficiente para seu próprio consumo, instalações que contam com painéis solares não podem operar de forma independente, o que implica em quedas de energia em episódios de blecautes, por exemplo. Projetos como o Merge visam o desenvolvimento de tecnologias que possibilitem a operação autônoma, ampliando a participação de fontes renováveis de energia na matriz elétrica do país, como a fotovoltaica e a eólica, e dando mais segurança a locais como indústrias, hospitais e comunidades remotas.
A CampusGrid conta com um sistema de armazenamento e baterias de 1MW/1,27 MWh, gerador a gás de 250 kVA, transformadores de aterramento e de força e cabines de baixa e média tensão. A estrutura aproveita a energia produzida por painéis solares instalados no GMU, na FEF, na Bora, no quiosque fotovoltaico e no posto de abastecimento do ônibus elétrico. Juntos, eles têm o potencial de geração de 565 kWp, o equivalente ao consumo de energia de 400 casas populares durante um mês. Toda a operação da microrrede será feita por softwares de controle inteligente.
A estimativa é que a estrutura gere uma economia anual de cerca de R$ 450 mil para a universidade. “Este projeto piloto é importante para enfrentarmos os desafios e para formarmos profissionais que possam contribuir para o mercado de microrredes na América Latina”, destaca Silva, exaltando o pioneirismo da Unicamp no setor. “Nenhuma universidade na América Latina conta com uma estrutura do tipo.”