Pesquisadores do CPTEn apresentaram pesquisas realizadas no Brasil
O segundo dia da conferência Energy Informatics.Academy (EI.A 2023), realizada na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp entre 6 e 8 de dezembro, contou com três palestras temáticas sobre a geração e análise de dados no monitoramento e melhoria tanto do ponto de vista da eficiência energética quanto da produção de alimentos, com especialistas dos respectivos setores.
Egresso da FEEC, Ricardo Torquato Borges, da empresa Energy Research and Analytics, representou o professor Walmir de Freitas Filho na palestra sobre aplicação do conceito de data analytics nos sistemas de energia elétricos. Segundo o engenheiro, sem a aquisição e verificação dos dados, não se consegue extrair informações confiáveis e importantes para realizar a transição energética tão necessária atualmente. Por meio de diferentes aplicações de medidores inteligentes, eles conseguiram identificar perdas pontuais de energia, diversas falhas no sistema e, assim, corrigir erros, entre outras vantagens que o uso desses equipamentos oferece.
Outro exemplo dado por Ricardo durante sua apresentação foi sobre como é essencial se antecipar a situações de oscilações em parques eólicos, citando o caso da China que, no período de um ano, entre 2012 e 2013, sofreu com dezenas de eventos do fenômeno de ressonância subsíncrona que, simplificadamente, ocorre quando existe um desequilíbrio de potência na transferência de energia em frequências mais baixas que o normal e com amplitude crescente ao longo da rede de transmissão e nos geradores. Destacou também a tese sob sua co-orientação do aluno, defendida ano passado pelo aluno Andrés de Jesús Argüello Guillén, do Programa de Engenharia Elétrica da Unicamp e que ganhou o Prêmio Capes de Tese deste ano na área de Engenharias. Ele reforçou ao final que, para se obter informações relevantes é central que se consiga dados de qualidade, pois vão afetar diretamente nas análises realizadas.
A palestra seguinte, ministrada por Marcelo Stehling de Castro, da Escola de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Goiás (UFG), focou na utilização de bases de dados de diferentes parâmetros, para avaliação da produção e consumo de energia. “Não é possível melhorar algo que não é monitorado”, mencionou o professor, sobre a importância da aquisição de dados. Porém, comentou que não basta coletar esses dados, mas sim ter uma quantidade relevante deles, além armazená-los, e realizar o tratamento deles, sempre que for necessário. Inclusive, brincou que até o ChatGPT, que usa a inteligência artificial nas indagações variadas dos usuários, precisa de uma análise de dados robusta para funcionar de forma cada vez mais aprimorada.
Em seguida, comentou da planta fotovoltaica da UFG, que teve seu monitoramento iniciado em 2012, mesma época em que começou sua colaboração com o professor Luiz Carlos Silva, diretor do CPTEn. Ao longo dos anos, foram instalados medidores inteligentes e que puderam auxiliar na tomada de decisão de, por exemplo, prazo adequado de limpeza dos painéis fotovoltaicos da usina em questão, baseado também em dados de precipitação coletados na região do campus. Esse e outros estudos de caso foram apresentados em sua palestra, como uma comparação do consumo energético e de água, entre a UFG, a Unicamp e a Universidade Estadual Paulista (Unesp).
A última palestra do dia foi proferida pela professora Bárbara Teruel, da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp, que tratou da necessidade urgente de se realizar mudanças na forma de se produzir alimentos, com ajuda de tecnologia de ponta, uma vez que o modo de produção atual não leva em conta a sustentabilidade na atividade agroindustrial. Esse tema acabou gerando bastante discussão dos participantes do evento que assistiram à apresentação, principalmente os dados mostrados sobre os impactos dos hábitos de consumo e desperdício de comida atuais, em relação às pegadas hídricas e de carbono referentes à cadeia produtiva de carne bovina.
Entre os dados apontados por Bárbara, cerca de um terço de tudo o que é produzido para consumo humano é jogado fora, assim como os 70% de todo volume de água utilizado no planeta é voltado somente para a agricultura. Dessa forma, a docente destacou a importância de se combater o desperdício e usar a tecnologia para a diminuição dos efeitos danosos da atividade agrícola. Como exemplos, trouxe três projetos desenvolvidos pela sua equipe, como o uso da inteligência artificial na análise de imagens para detecção de plantas daninhas em cultivos de cana de açúcar, e na melhoria da qualidade de uva do Vale do São Francisco, no Nordeste brasileiro, selecionada para a fabricação de vinhos, bem como a investigação do biodiesel como combustível alternativo para a busca por uma agricultura de baixo carbono.
Em seguida, as apresentações dos trabalhos inscritos continuaram pelo resto da manhã relacionados a sistemas inteligentes de aquecimento e resfriamento; e, no período da tarde, sobre previsão da geração de energia e seu gerenciamento, por meio de dispositivos como medidores.
Acesse a programação completa e o link para os trabalhos apresentados.
Texto: Maria Carolina H. Ribeiro (bolsista de Jornalismo Científico do CPTEn)
Fotos: Joni Amorim (CPTEn)