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A experiência das universidades como laboratórios de soluções sustentáveis foi destaque na COP30

Livro traz um capítulo sobre os corredores ecológicos desenvolvido pela Unicamp em parceria com Seclimas

Reportagem publicada no Jornal da Unicamp
Texto: Patrícia Mariuzzo (enviada especial à COP30)
Fotos: Divulgação COP30
Edição de imagens: Paulo Cavalheri

Um dos objetivos da COP30 é compartilhar experiências e tecnologias que nos aproximem do cumprimento dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU). Ao implementarem soluções sustentáveis na gestão dos campi, as universidades podem atuar como laboratórios vivos para experimentação, demonstração e validação de práticas inovadoras que podem ser replicadas em escala urbana.

O livro “Plano de Transformação Ecológica (PTE) e Instituições de Ensino Superior: experiências na Rede UniSustentável”, lançado nesta terça-feira (dia 12), no Pavilhão das Universidades, na COP30, reúne relatos de experiências de transformação ecológica e sustentabilidade alinhadas aos eixos do Plano de Transformação Ecológica (PTE) em universidades brasileiras. Lançado na COP28, em 2023, o PTE é iniciativa do governo federal brasileiro, com foco no desenvolvimento econômico sustentável e tecnológico, que visa modernizar a indústria, a agricultura, a energia e as finanças do país.

Painel de discussão do potencial das universidades como espaços de experimentação de tecnologias sustentáveis; participaram Thalita Dalbelo (Unicamp), Graciella Faico (UFF), Leonardo Chaves (UFMS), 
Andrea Araújo do Carmo (UEMA), Fernando Assanti (Instituto Selo Sustentável)
Painel de discussão do potencial das universidades como espaços de experimentação de tecnologias sustentáveis; participaram Thalita Dalbelo (Unicamp), Graciella Faico (UFF), Leonardo Chaves (UFMS), Andrea Araújo do Carmo (UEMA), Fernando Assanti (Instituto Selo Sustentável)

Desde 2022, a Unicamp faz parte da Rede UniSustentável, que promove sustentabilidade no ambiente universitário. De acordo com Thalita Dalbelo, coordenadora de sustentabilidade da Unicamp, a rede atua por meio da cooperação entre os membros e incentiva a troca de experiências entre eles. “O objetivo do livro é justamente este, e fazer o lançamento aqui na COP30 amplia a visibilidade das ações adotadas em nossas instituições”, contou Dalbelo, que, junto a parte da equipe da Coordenadoria de Sustentabilidade (CSUS), assina o capítulo “Reconexão de áreas verdes urbanas: os corredores ecológicos na Unicamp”.

O Projeto Corredores Ecológicos, desenvolvido em parceria com a Secretaria do Clima, Meio Ambiente e Sustentabilidade de Campinas (Seclimas), irá conectar áreas de conservação e polígonos de compensação do campus entre si e com fragmentos de vegetação externos, permitindo o fluxo gênico de fauna e de flora. No painel “Áreas verdes e ação climática em São Paulo”, que aconteceu no dia 11 de novembro no Pavilhão das Universidades, Ângela Guirão, assessora técnica da Seclimas, explicou que o projeto da Unicamp é um componente do plano macrorregional Reconecta RMC. “O corredor da Unicamp é o primeiro de cinco corredores que queremos implementar na cidade para conectar os fragmentos de mata de Campinas entre eles e com áreas verdes da Região Metropolitana de Campinas.”

Também orientado para a transformação ecológica e para a recuperação de áreas verdes, o Instituto Federal de São Paulo (IFSP) conduziu um projeto de identificação de árvores e mapeamento de trilhas em dois bosques, o Cambuí e o Santa Marta, na cidade de São Carlos. Segundo Fabriciu Veiga Benini, professor do curso de Tecnologia da Manutenção em Aeronaves no IFSP, campus São Carlos, que coordenou o projeto, a despeito das funções ecológicas e sociais dessas áreas verdes em São Carlos, não havia informações sistematizadas sobre a biodiversidade arbórea, nem mapeamento e sinalização das trilhas. “A ausência de materiais informativos de fácil acesso limitava a experiência de visitação e dificultava a utilização dos bosques como laboratórios vivos para a educação ambiental”, escreveu Benini.

O projeto Corredores Ecológicos, desenvolvido em parceria com a Secretaria do Clima, Meio Ambiente e Sustentabilidade de Campinas (Seclimas), irá conectar áreas de conservação e polígonos de compensação do campus entre si e com fragmentos de vegetação externos
O projeto Corredores Ecológicos, desenvolvido em parceria com a Secretaria do Clima, Meio Ambiente e Sustentabilidade de Campinas (Seclimas)

O mapeamento das árvores, que contou com o uso de drones, foi feito por alunos e servidores do Instituto, parte deles com bolsas da Pró-Reitoria de Extensão do IFSP e em parceria com a Associação dos Moradores do Parque Santa Marta (AMPSM) e com a ONG Veredas: Caminho das Nascentes, que já atuavam em iniciativas de conservação e promoção de atividades nesses locais.

Um dos resultados do projeto foi a elaboração de mapas e roteiros de visitação dos bosques. Além disso, conforme explicou Benini, a iniciativa aumentou a conscientização sobre a biodiversidade e o uso responsável dos bosques, apoiando ações da AMPSM e fortalecendo seu vínculo com os moradores. Mais bem equipados, os espaços passaram a ser utilizados para eventos locais, ampliando seu uso educativo. “O principal êxito foi o desenvolvimento e a validação de uma metodologia participativa para o mapeamento de trilhas e a identificação de árvores por equipes mistas”, pontuou Benini. Confirmando a premissa do potencial da universidade como um laboratório de experimentação, esta metodologia está pronta para ser aplicada em outros espaços verdes urbanos.

O que pode a cultura na agenda climática?

“Vamos precisar de todo mundo!” Foi com este trecho de O sal da terra que a ministra da cultura Margareth Menezes abriu o painel “Narrativas e contação de histórias para enfrentar a crise climática”, nesta terça-feira, dia 12 de novembro, em um dos auditórios da Apex Brasil, na COP30. Menezes lembrou que, em 1981, ano de lançamento da música, os compositores Beto Guedes e Ronaldo Bastos já alertavam sobre o cuidado com o planeta para a construção de um futuro melhor; e que, na Rio-92, a conferência sobre meio ambiente e clima que consolidou o conceito de desenvolvimento sustentável, as evidências sobre a mudança climática já estavam postas. “Mesmo assim, fizemos muito pouco para reparar o impacto da atividade humana na natureza e no clima. O que estamos vendo e vivendo hoje – as ondas de calor, as chuvas intensas, as inundações – são fruto da nossa falta de ação”, afirmou a ministra. “Qual o poder da arte na agenda climática? Como a cultura pode nos impulsionar a agir?”, questionou.

Organizado pelo Ministério da Cultura, o painel contou com a presença de Janja Lula da Silva, a primeira-dama do Brasil (saia preta e branca)
Organizado pelo Ministério da Cultura, o painel contou com a presença de Janja Lula da Silva, a primeira-dama do Brasil (saia preta e branca)

O Ministério da Cultura (MinC) tem intensificado a integração entre os temas cultura e clima, liderando iniciativas globais como o Grupo de Amigos da Ação Climática Baseada na Cultura e promovendo debates e políticas que reconhecem a cultura como ferramenta para a mitigação das mudanças climáticas e a adaptação a elas.

Organizado pelo MinC, o painel contou com a presença de Janja Lula da Silva, a primeira-dama do Brasil; Claudia Roth, ex-ministra da cultura da Alemanha; Davi Kopenawa Yanomami, escritor e liderança indígena; Juliano Salgado, cineasta e produtor cultural; Kumi Naidoo, ativista sul-africano de direitos humanos e justiça climática; Klebber Toledo, ator e ativista brasileiro. O painel foi mediado pela atriz e apresentadora Giovanna Nader.

Os participantes defenderam o poder da arte como uma ferramenta de mobilização e de transformação. Roth mencionou outro músico, o rapper El General, que, com apenas 18 anos, lançou um rap antirregime que se tornou um hino da revolução tunisiana e um dos catalisadores da Primavera Árabe de 2011. A ex-ministra também mencionou Augusto Boal (1931-2009), com o seu Teatro do Oprimido. “A música, a arte em geral, não tem um papel de comentarista da realidade. Ela não é apenas para embalar nossos momentos bons, ao contrário, a arte tem uma função de preencher os silêncios, de contar as histórias que precisamos ouvir, de emocionar e de criticar”, afirmou a ex-ministra.

Discussão contou com a presença da ministra da Cultura, Margareth Menezes (blazer azul); o MinC tem intensificado a integração entre os temas cultura e clima
Discussão contou com a presença da ministra da Cultura, Margareth Menezes (blazer azul); o MinC tem intensificado a integração entre os temas cultura e clima

“Só a cultura alcança o coração das pessoas e mobiliza de um jeito que a ciência e política não podem fazer”, complementou. Em sua passagem pelo ministério, Roth criou ações e festivais culturais em torno do tema sustentabilidade para promover conexões entre pesquisadores e artistas. Também criou manuais para a produção de eventos culturais – como shows e peças teatrais – mais sustentáveis.

Enviada especial para as mulheres na COP30, a primeira-dama Janja Lula da Silva destacou que a cultura tem sido um eixo central no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, inclusive quando o tema é a mudança climática. “Trazer a COP para Belém é uma maneira de aproximar os negociadores da realidade brasileira e de fazer os povos amazônicos serem ouvidos”, disse.

Kopenawa também reforçou o papel das narrativas ancestrais para reconstruir nossa relação com o planeta. Para a liderança indígena, a principal lição da COP30 em Belém será lançar luz e dar voz à cultura indígena. Ao lamentar o avanço da urbanização e do agronegócio sobre a floresta, ele afirmou: “Nossa cultura emana da Terra e não é simples de entender o que a terra-mãe está dizendo. A Terra pede silêncio porque somente no silêncio é possível sonhar.”

Uma das referências mundiais no chamado artivismo, movimento que une arte e ativismo em torno de mudanças sociais, políticas e ambientais, Naidoo afirmou que toda mudança passa pela emoção. Para o ativista, o uso de combustíveis fósseis é a principal causa das mudanças climáticas. “Sem interromper a exploração de petróleo, não há futuro. Convoco todos os artistas a apoiar os povos indígenas na luta contra a exploração de petróleo na Foz do Rio Amazonas”, disse, após ficar de joelhos diante da plateia.

Os participantes defenderam o poder da arte como uma ferramenta de mobilização e de transformação
Os participantes defenderam o poder da arte como uma ferramenta de mobilização e de transformação

Há 10 anos, Toledo faz parte do projeto ReSurf, que promove ações de educação ambiental. Em novembro deste ano, o ator organizou o Festival Mãos Dadas, um mutirão de limpeza na Praia da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. “Depois da epidemia de covid-19, temos hoje outra epidemia de desinformação, em que vemos lideranças mundiais propagarem notícias falsas que geram descrença e que imobilizam”, afirmou. “A arte tem esse papel de ser elo entre as pessoas, uma arte capaz de devolver a esperança e a vontade de agir e de mudar.”

Filho do fotógrafo Sebastião Salgado, Juliano Salgado está à frente do Instituto Terra, dedicado a ações de recuperação ambiental. O cineasta também lembrou a importância da cultura indígena para nos ensinar a cuidar melhor do planeta. “Foi meu contato com eles que me ajudou a entender a importância da terra e das árvores”, afirmou. Em 2020, o Instituto plantou 500 mil árvores; no próximo ano, o número deve triplicar. Segundo Salgado, além de ações de replantio de árvores, o Instituto Terra tem investido em projetos que unem agricultura e a floresta em pé. “Acredito que somente as soluções baseadas no cooperativismo poderão garantir um futuro com acesso à água, ao alimento e à justiça social”, finalizou.

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