Professores destacaram avanços históricos e a necessidade de integrar ensino, pesquisa e extensão no enfrentamento da emergência climática no campus
A sustentabilidade mais uma vez protagonizou o debate na Unicamp em um encontro que reuniu docentes de diferentes áreas para discutir os avanços da universidade e os próximos passos diante da emergência climática. Com mediação de Thalita Dalbelo, a mesa redonda de abertura do Seminário “Sustentabilidade em Rede: Ciência, Território e Ação” abordou as conquistas históricas da instituição e seus desafios estruturais, sobretudo no ensino e na formação de estudantes.

A professora Emilia Wanda Rutowski relembrou que a preocupação ambiental acompanha a universidade há décadas, desde a criação do Núcleo de Ecologia Humana, em 1986, e do programa de coleta seletiva do Hospital de Clínicas, em 1996. Ela destacou que a área que antes abrigava o chamado “lixão da Unicamp” foi a primeira a ser reconhecida como Área de Preservação Permanente (APP) e destinada à recuperação ambiental.
Apesar dos avanços, Rutowski criticou retrocessos, como a descontinuidade do programa Lixo Zero e o retorno ao uso de descartáveis no campus. Para ela, o maior desafio atual é integrar a questão ambiental de forma educativa, interdisciplinar e prática na formação dos alunos. “Somos muito bons em pesquisa, mas estamos devendo no ensino”, avaliou.
Complementando este posicionamento, o diretor do CPTEn, professor Luiz Carlos Pereira da Silva levantou a necessidade de reformar o curso de Engenharia Elétrica para garantir uma formação mais sistemática em energia sustentável. Ele citou a iminente criação do curso de Direito como oportunidade para introduzir disciplinas ligadas à sustentabilidade, incluindo, por exemplo, conhecimentos sobre a legislação e sua aplicação. Dentre os projetos em andamento no Campus Sustentável, destacou o Hub Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (HIDS). A implantação de uma fazenda experimental de energia fotovoltaica, em parceria com a iniciativa privada, deve ampliar a geração própria da universidade — que hoje tem cerca de 7% dos telhados cobertos por painéis solares.

Já a professora Simone Vieira alertou para a urgência de respostas institucionais diante da crise climática. “Teremos que olhar nos olhos dos nossos filhos em 20 anos e dizer que nossa escolha foi falhar”, afirmou, citando o autor Luiz Marques em referência ao dilema entre capitalismo e colapso ambiental.
Em sua apresentação, a docente defendeu que todos os alunos de graduação e pós-graduação tenham acesso a uma disciplina obrigatória sobre mudanças climáticas e que a universidade amplie ações de extensão para levar ciência e soluções às comunidades locais.
Por fim, o professor Roberto Donato apresentou a proposta da atual gestão do campus para enfrentar os desafios ambientais: a criação da Diretoria Executiva de Sustentabilidade (DEsusten), órgão ligado ao gabinete do reitor. A nova estrutura pretende articular iniciativas já existentes, valorizar a alta produtividade científica da universidade e consolidar uma política ambiental clara e integrada.
Segundo ele, essa integração já vinha sendo discutida desde a gestão do professor Antonio Meirelles e ganhou novo impulso com a nova gestão do professor Paulo César Montagner, que colocou a pauta ambiental e o HIDS como prioridades.“Fazer uma resposta institucional a todas essas questões é uma tarefa de altíssima complexidade, mas é uma promessa que não pode ficar apenas no discurso”, concluiu.

Reportagem e fotos: Julia Devito (bolsista de Jornalismo Científico CPTEn/Fapesp)