Descarbonização da economia paulista. Essa problemática reuniu pesquisadores, professores, estudantes e representantes da gestão municipal de Campinas em evento para tratar do Plano de Ação Climática e Desenvolvimento Sustentável para o Estado de São Paulo (PAC 2050). O documento estabelece as orientações que devem ser adotadas para diminuir a emissão de gases do efeito estufa e de poluentes vindos tanto do setor público quanto do privado. Atualmente, os níveis de produção e consumo da sociedade paulista fazem do Estado a terceira maior economia da América Latina, atrás apenas do Brasil e do México. No entanto, esses mesmos níveis colocam São Paulo na quarta posição do ranking nacional de emissão de poluentes atmosféricos. O evento ocorreu na última sexta-feira (5), em modalidade híbrida, na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (Feec) da Unicamp.
Dados estaduais de 2020 mostram que a participação dos setores de transporte (29%), agropecuário (28%), de energia (27%), de resíduos (13%) e industrial (3%) são as maiores quando se trata das emissões de gases de efeito estufa. No cenário nacional, há uma troca de posições entre os três primeiros setores: o agropecuário é responsável por 62% das emissões, o energético assume o segundo lugar com 14% e o transporte cai para terceiro, com 12%, seguidos das categorias de resíduos e da indústria, cujo percentual nacional é de 6%, ficando empatados na última posição. Essas informações foram divulgadas por Gilberto Jannuzzi, professor da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) e integrante da equipe de coordenação técnica do PAC 2050. Jannuzzi também apresentou a estrutura e o processo de elaboração desse relatório junto à Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil).
“A missão inicial desse plano é chegar a 2050 zerando emissões. Olhamos primeiro para as atividades que geram as emissões diretas”, explicou o professor. Ele esclareceu que, segundo o entendimento da equipe responsável por elaborar o PAC 2050, o documento teria uma característica inicial de orientação, deixando as questões mais específicas, de implementação mais complexa, para um plano posterior. “Olhamos o plano de investimento do Estado, que é de médio e longo prazo. Nele, existe um programa de compras sustentáveis que deve estar alinhado ao PAC, por exemplo. Tenho sugerido para o governo que reveja as compras de eletricidade, que comece a comprar ‘energia verde’ [de fontes sustentáveis], sendo esse um exemplo dessas ações. É preciso haver um pouco de implementação e, depois, vem a prescrição”, ponderou.
Além de Jannuzzi, Rogério Menezes, secretário municipal da Secretaria do Verde, Meio Ambiente e Sustentabilidade (SVAS) de Campinas, e Luiz Carlos Pereira da Silva, professor da Feec, coordenador do Campus Sustentável e diretor do Centro Paulista de Estudos da Transição Energética (CPTEn), também participaram do debate. O secretário discorreu sobre o planejamento municipal de Campinas e a adesão da cidade às orientações estaduais, enquanto o professor destacou os esforços empreendidos pela Unicamp, principalmente nas questões energética e de eletricidade.
Região metropolitana de Campinas
“No ano-base de 2016, a contribuição de Campinas para as emissões da sua região metropolitana foi de 23,74%. Pode parecer incrível, a maior cidade é Campinas, mas o índice mais alto de emissão é de Paulínia, justamente pela questão energética da Petrobrás, envolvendo a refinaria”, contextualizou Rogério Menezes, enfatizando que a região metropolitana engloba 20 municípios paulistas. Nesse grupo, Paulínia e Campinas — nessa ordem — são os responsáveis pela maior parcela da poluição atmosférica, seguidos de Jaguariúna, que, apesar de figurar na terceira colocação, apresenta um baixo nível de emissões.
O secretário da SVAS recordou as ações adotadas nos últimos anos, mencionando o percurso trilhado por Campinas, que começou com a adesão ao Pacto Global dos Prefeitos pelo Clima e a Energia. Em 2016, foi criado o inventário de gases do efeito estufa e poluentes, com informações sobre esses municípios da região metropolitana. Seguindo a mesma categorização estadual e conforme informações do PAC 2050, os setores que mais emitem poluentes em Campinas são os de energia, de transporte, agropecuário e de resíduos, nessa ordem.
Em 2020, após a realização do inventário e de alguns estudos, a prefeitura de Campinas publicou uma lei municipal para a redução do impacto das mudanças climáticas e da poluição atmosférica (Lei 16.022/2020). O texto definiu conceitos, princípios, objetivos, diretrizes e estratégias para aquele fim, além de estabelecer as seguintes metas de redução de poluentes: em 8% para 2030 e 16% em 2040, chegando, entre os anos de 2050 e 2060, a uma redução de 32% para os gases do efeito estufa e 31% para os gases poluentes. Deve ser divulgado também o Plano de Ações Climáticas de Campinas, que se encontra em elaboração.
Na Unicamp
“Conseguimos fazer muitas transformações importantes nos campi universitários da Unicamp, na área de eficiência energética, energias renovadas e contratação de energia, principalmente na Cidade Universitária Zeferino Vaz. A Unicamp, por exemplo, contrata energia renovada 100% e, a partir de 2025, a nossa energia será incentivada. É a única universidade pública brasileira que contrata energia no Ambiente de Contratação Livre”, comemora o coordenador do Campus Sustentável, afirmando que tanto a energia elétrica produzida nas instalações locais quanto a comprada são de fontes renováveis.
Fazem parte também das iniciativas desse Laboratório Vivo de Transição, Eficiência e Sustentabilidade Energética os planos de gestão nas áreas das redes elétricas de média e baixa tensão da Cidade Universitária Zeferino Vaz, a circulação interna de um ônibus elétrico para usuários e visitantes, o gerenciamento de contratos e demandas de energia, o gerenciamento do uso final de energia nas suas edificações, assim como a substituição de lâmpadas e aparelhos de ar-condicionados por modelos mais eficientes. No âmbito do Plano Diretor Integrado e do Sistema de Gestão de Energia, são realizados trabalhos colaborativos com as unidades da Universidade, empresas e instituições parceiras, como por exemplo a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL) e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), entre outras.
O coordenador mencionou as dificuldades enfrentadas quando da implementação do Campus Sustentável. De modo geral, os impasses diziam respeito à falta de instrução burocrática e orientação especializada, bem como de legislação específica. Muitos desses desafios, segundo Jannuzzi, podem ser superados mais facilmente agora, com as diretrizes, os métodos e os indicadores do PAC 2050. “Existem muitas pesquisas que podem auxiliar no plano de implementação, como a avaliação sobre por onde começar, o que dá certo, e aí aumentar a escala de implementação para uma cidade ou uma região”, pontuou o integrante da equipe de coordenação técnica.
De acordo com o diretor do CPTEn, os eixos de trabalhos do órgão devem ir ao encontro dos direcionamentos propostos pelo PAC 2050. “Causaremos impacto para além dos muros da Universidade. Temos a intenção de trabalhar também com escolas públicas. Hoje, contamos com um projeto-piloto [no Campus Sustentável], mas está em discussão realizar ações com 85 escolas estaduais pertencentes à Regional Leste Campinas”, finalizou Silva, ressaltando a importância de projetos e pesquisas direcionados à formação de estudantes e à capacitação profissional para o exercício de uma cidadania mais atuante.
Reportagem: Inácio de Paula | Jornalista bolsista do CPTEn
Fotos: Antônio Scarpinetti | SEC Unicamp
Edição de Imagens: Alex Calixto | SEC Unicamp
Texto publicado no Jornal da Unicamp